Capturado por uma estranha raça de Homens-Fera, Conan luta pela sua liberdade e ainda evidencia o quanto somos escravos de nossa própria inércia.
Por Ronan Barros
Conan, The Barbarian #2 segue a esteira do sucesso da primeira edição e entrega um produto bastante similar ao anterior. A capa é novamente desenhada por Barry Smith e colorida por Sam Rosen e apresenta um grupo de homens-feras trajando estranhas armaduras enquanto atacam nosso querido cimério. Friso a questão da armadura pois, elas, novamente, transmitem uma estranha sensação High-Tech o que não parece casar bem com a Era Hiboriana evidenciando, assim como havia dito no review da edição anterior, que Barry parecia ainda não ter achado o ponto de corte do cenário (ou vai ver eu apenas estou sendo um chato mesmo).
O roteiro continua nas mãos do talentoso Roy Thomas que entrega uma história carregada de apelo questionador e inspirador. A trama gira em torno de Conan, ao viajar pelo reino de Aesgaard, ser capturado em uma armadilha e se tornar escravo de “Homens-Feras” que vivem numa espécie de “cidade perdida” no subterrâneo. Aprisionado com outros humanos na cidade, ele acaba descobrindo a existência de gerações inteira de humanos escravizados na cidade que se conformaram com a situação. Conan prefere a própria morte do que uma vida de servidão, então, não demora muito para que o mesmo confronte seus opressores e acabe sendo condenado a lutar até a morte numa arena.
Bom, faltou alguém avisar aos Homens-Fera que, “lutar até a morte” contra Conan é pedir para sair morto e, claro, qualquer leitor com o mínimo de perspicácia acaba meio que prevendo os rumos que a história vai tomar.
Assim como a primeira edição, o quadrinho tem todo aquele teor anos 70 regrado pelo selo da “Comics Code Authority”. As mortes ocorrem de forma veladas e não há sequer nenhuma gota de sangue em todo o quadrinho. Isto vai ser uma constante em boa parte das edições deste período, mas, não se engane, apesar de ser notório aquela influencia setentista infanto-juvenil típica dos quadrinhos norte-americanos da época, eu realmente gostei da história quando a reli recentemente. Confesso que fiquei um pouco surpreendido com a emoção impregnada no roteiro escrito por Roy Thomas e realmente gostei do discurso pró liberdade e contra apatia que questiona o próprio sentido de ser livre e ser inerte. Seria fácil extrapolar o rápido e rasteiro discurso apresentado no quadrinho para o mundo atual e a servidão silenciosa que servimos ao mercado de trabalho. Será que somos mesmo livres? Acordar cedo todo dia para cumprir um horário, almoçar rapidamente em apenas uma hora, enfrentar um engarrafamento só para chegar no trabalho, trabalhar o mês todo para conseguir apenas pagar dívidas... será que entendemos mesmo o que significa a liberdade? Ou será que existem “homens-Fera” puxando cordas invisíveis em formato de moedas controlando nossas vida?
Eu não sei... e não se assuste, o quadrinho também não sabe. O discurso presente nele para na instigação. As extrapolações acima são apenas minhas..., mas que foram genialmente induzidas por aquele pequeno quadrinho de puro entretenimento.
A arte do Barry, como já havia dito acima, entrega um trabalho muito similar ao da primeira edição (review aqui). Novamente temos alguns conceitos que parecem high-tech demais para a era hiboriana, principalmente o design da cidade subterrânea e as armaduras dos Homens-Fera. Barry Smith, aqui, mostra a sua clara influência nas obras de Jack Kirby. Um ponto que me chamou a atenção, e isto era algo típico dos quadrinhos da época, é que as páginas tinham mais quadro do que somos acostumados atualmente. Acho que esta história de 20 páginas provavelmente teria umas 40 se fosse reproduzida hoje em dia. Roy e Barry conseguem entregar um trabalho denso o suficiente para manter coesa e completa toda a história. Com direito a desenvolvimento de personagens (como o caso de Kiord, um dos escravizados dentro da história), reviravoltas, discursos de ideais e, claro, muita ação, afinal, ainda é um quadrinho de Conan.
Assim, mesmo sendo uma obra em suma previsível e com o teor inocente típico dos quadrinhos da época, ainda a achei divertida, ambiciosa e nostálgico o suficiente para ser lida atualmente no recente omnibus Conan, A Era Marvel lançado pela PANINI em 2020.
Nota: 7
CURIOSIDADES
- Esta edição saiu dois meses após a número 1 e, graças ao sucesso de venda da primeira edição, a revista iria se tornar mensal a partir do número 2. Mas as vendas posteriormente caíram e a série foi novamente transformada em bimestral no número 7.
- A ideia dos Homens-Fera e seus escravos foram diretamente inspirados de uma passagem do texto de Howard em Anais da Era Hiboriana onde ele relata a luta de uma expedição humana contra uma raça de macacos nortenhos inteligentes.
- Na série de TV “Conan, The Adventurer” lançada em 1997 estrelando Ralf Moeller, eles adaptaram esta historia num episódio chamado Lair of the Beastmen.
- A primeira página desta edição teve que ser redesenhada quando Martin Goodman, o chefe da Marvel Comics na época, decidiu que os homens-fera precisavam ser vistos no início da história. No desenho original havia um urso no lugar do Homem-Fera.
- A sessão de cartas desta edição é composta apenas por cartas de ilustres a qual Roy Thomas pediu encarecidamente que participassem e avaliassem a primeira edição. Entre os nomes estão Gleen Lord, o agente literário das obras de Howard e Harlan Ellison, um expoente escritor de fantasia e ficção na época.
- Um dos Homens-Fera apresenta o nome “Har-Lann” em homenagem direta ao escritor autor Harlan Ellison (que estava na sessão de cartas da mesma edição).
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