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CORMAC FITZGEOFFREY

Atualizado: 10 de nov. de 2021

Conheça o templário Comarc Fitzgeoffrey, o personagem criado por Robert E. Howard cuja as aventuras estão ambientadas na época das cruzadas.


Por Marcelo Alves


Ilustração de Joe Jusko

Então... preparados para conhecerem mais um personagem de Robert E. Howard ? Pois falaremos do cruzado Cormac FitzGeoffrey (sim, isso mesmo, um cavaleiro howardiano que participou das Cruzadas europeias contra os muçulmanos na conquista dos reinos cristãos de Jerusalém) .


Quem foi Cormac FitzGeoffrey? Vamos fazer uma breve descrição sobre ele feita pelo próprio Howard :


Filho de uma mulher do clã dos O’Brien e de Geoffrey, o Bastardo, Cormac FitzGeoffrey foi um cavaleiro normando renegado, em cujas veias – segundo dizem – corria o sangue de Guilherme I, o Conquistador. Cormac raras vezes havia conhecido uma hora de paz ou tranquilidade ao longo de seus trinta anos de violenta vida. Nascido em uma terra desgarrada pelo ódio e regada com sangue, foi criado rodeado por um legado de ódio e selvageria. A antiga cultura de Erin[1] havia sido destroçada diante das repetidas matanças dos noruegueses e dos dinamarqueses. Encurralado em qualquer lugar por cruéis inimigos, a crescente civilização dos celtas havia sido desvanecida diante da feroz necessidade de um conflito incessante e a cruel luta pela sobrevivência converteu os gaélicos em uns seres tão selvagens, igual àqueles que eles enfrentavam. (Robert E. Howard, Falcões de Ultramar).

Segundo o escritor francês François Truchaud, Cormac FitzGeoffrey é, dentre todos os personagens de Howard, o mais selvagem! Não é a toa que a concepção desse personagem ao publico leitor o conceitue como o personagem mais selvagem do escritor texano, pois a própria origem de Cormac FitzGeoffrey está repleta da «barbárie» conceitual que Howard atribuiu aos seus personagens descendentes de irlandeses.


Interessante também é notarmos que Cormac faz parte de duas linhagens distinta de clãs que viviam em constante disputas entre si na distante Irlanda idealizada por Robert E. Howard. O próprio nome de Cormac FitzGeoffrey já sinaliza que o personagem tem dupla origem: normanda (por parte de pai) ; e irlandesa (por parte de mãe). Patrice Louinet, especialista nas obras Howard, irá fazer uma comparação entre ambas a linhagem da própria genealogia paterna e materna do texano nas seguintes palavras que o próprio Howard escreveu em uma carta para Lovecraft :


“Meu ramo da família Howard chegou à América em 1733, e o primeiro a chegar em solo americano se casou com uma irlandesa. Uma regra que nenhum dos meus ancestrais Howard se desviaram desde então, pelo que eu sei. Por trás do meu nome em inglês estão linhagens puramente gaélicas: Eiarbhin, O’Tyrrell, Colquhoun, MacEnry ou Norman-Irish: Martuin, De Collier, FitzHenry, etc"

Louinet continua sua análise da seguinte maneira:


"A questão da genealogia de Howard é extremamente complexa, mas acontece que o texano fantasiou sobre suas origens muito mais do que qualquer outra coisa, a fim de se tornar o que sonhava ser naquela época: um homem com muita ancestralidade, em grande parte irlandesa e mais precisamente gaélica. Claramente, Howard rejeitou a parte anglo-saxônica de sua herança familiar em favor da parte irlandesa, mesmo que isso signifique reinventar sua genealogia. Simplificando, Robert estava se tornando muito mais um Ervin, o nome de solteira exclusivamente irlandês de sua mãe, do que um Howard, o sobrenome puramente anglo-saxão que seu pai havia legado a ele. Essa negação do pai é obviamente encontrada nos contos de Cormac FitzGeoffrey nos quais ele - o pai - é chamado de "Geoffrey o Bastardo".

Parece soar bem biográfico isso do Howard em conceber ao seu personagem essas duas características, normanda e irlandesa, dando maior predileção para a sua ancestralidade irlandesa. O escritor texano parece ter uma certa rejeição à sua origem anglo-saxônica. O próprio personagem de Cormac FitzGeoffrey sofrerá uma rejeição, só que de ambas as partes de suas linhagens de origem. Rejeitado e hostilizado por ambos os clãs (normando e irlandês) de sua descendência, Cormac FitzGeoffrey partirá para terras desconhecidas à procura de aventuras, chegando a ingressar num batalhão de mercenários que lutariam na Terceira Cruzada.


Podemos fazer uma paralelo entre Cormac FitzGeoffrey e a própria cultura feudal europeia em que muitos europeus saiam de sua casa paterna, e de sua parentela, em busca de aventuras nas terras da Palestina. Pois numa casa feudal, o direito de herança dos bens da família, e até mesmo o direito de herança de uma coroa real, cabia sempre ao filho primogênito. Ao segundo filho caberia apenas dois destinos: torna-se um religioso ingressando num monastério, ou ser um aventureiro em terras distantes, principalmente em Jerusalém. Nesse contexto, Jerusalém se tornaria para o segundo filho de um nobre feudal, ou até mesmo para um filho bastardo, a expiação dos pecados do mesmo e também a possibilidade de conquistar terras e tornar-se o senhor de sua própria casa feudal.


Pois bem. Todos nós sabemos que as Cruzadas foram o palco de uma disputa sangrenta pelas terras da Palestina por parte dos europeus contra os muçulmanos pelo domínio da Terra Santa. Portanto, não é preciso nos determos nos detalhes históricos das Cruzadas em si, mas sim neste cenário histórico em que elas foram travadas com o avanço das forças bélicas dos islâmicos em direção das terras do reino de Jerusalém no seu expansionismo de uma «guerra santa» (jihad) em direção às terras europeias.

Nesse sentido, a concepção howardiana de aventuras épicas ganhará espaço nos dois contos que Howard escreveu para o seu personagem Cormac FitzGeoffrey: Falcões de Ultramar e O Sangue de Bel-Shazzar. Ambos foram publicados na revista Oriental Stories em 1931. Uma terceira história envolvendo o personagem ficaria incompleta e, posteriormente seria chamada de «A Princesa Escrava».


Originalmente Howard começaria a escrever a primeira história de Cormac a partir de setembro de 1929. Louinet nos diz que foi nesse ano que Robert E. Howard começou a ter um interesse maior pela origem dos irlandeses e, consequentemente, de sua própria origem materna. Em outubro de 1930 ele escreveria uma carta ao seu amigo Harold Preece relatando a criação desse seu novo personagem, o guerreiro «mais sombrio de sua carreira».


Prontamente Farnsworth Wright comprou o conto de Cormac FitzGeoffrey, e Howard começou a escrever imediatamente um novo conto desse personagem cujo titulo se chamaria ‘The Blood of Bel-Shazzar’. Após a venda desse novo conto para a Oriental Stories, Howard começaria a escrever mais uma história de Cormac também neste mesmo ano de 1930, mas que logo deixaria de lado sem tê-la concluída. Segundo Patrice Louinet, possivelmente o editor Farnsworth Wright tenha pedido para que Howard não continuasse a escrever novas histórias de FitzGeoffrey para serem publicadas, pois a revista havia mudado a periodicidade de sua publicação de bimestral para trimestal e, um mesmo personagem recorrente possivelmente não atrairia um publico leitor que estivesse interessado em novas histórias com outros personagens. Então, dessa forma Howard abandonaria a terceira história de Cormac FitzGeoffrey pela metade e começaria a escrever sobre novas histórias orientais com novos personagens encomendados para serem publicados na Oriental Stories. Mas isso é uma outra história que contaremos em um próximo artigo brevemente.

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[1] antigo nome usado por poetas e irlandeses nacionalistas do século XIX para designar o país da Irlanda.

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