Em algumas cartas, REH costumava descrever sonhos onde ele próprio era um bárbaro; Bran seria uma representação bem próxima desses sonhos descritos.
Por Marco Antônio Collares
SONHANDO SER BRAN MAK MORN
Uma das cartas mais interessantes de Robert Howard data de 1933. Nela, o escritor texano fala de um sonho muito comum que costumava ter desde criança. O sonho versava sobre os tempos antigos, situando-se em vastidões geladas e de céus sombrios, onde homens selvagens de cabelos longos desgrenhados perambulavam, fustigados pelos ventos e pelos rigores do ermo. Esses homens selvagens eram ferozes e sobreviviam aonde a civilização não tocava.
Nesses sonhos, Howard sempre se via como um desses bárbaros, armado com um machado de folha dupla e uma espada rude ensanguentada, lutando pela vida contra animais selvagens ou mesmo atacando as hostes dos homens civilizados armadurados que tentavam conquistar as terras bárbaras. Howard então termina a carta afirmando que quando narrava uma trama sobre esses tempos antigos da humanidade, ele sempre se encontrava ao lado de seus personagens rudes e bárbaros, lutando contra os poderes da civilização organizada e decadente.
De certo mesmo é que um de seus personagens mais famosos, Bran Mak Morn, criado em 1930, seria uma das representações mais fidedignas desses sonhos. Howard afirmava que tal personagem apareceu em seu consciente muito antes dessa data, quando ele tinha apenas 13 anos de idade, em uma visita a biblioteca pública de New Orleans. Lendo um livro de história sobre os povos pictos escoceses, ele se impressionou com o fato deles terem resistido ao avanço de Roma sobre suas terras, mesmo que fossem derrotados em algum momento. Aliás, na narrativa intitulada The Dark Man, Howard já havia colocado o personagem como uma espécie de deidade dos pictos do século XI, levando-o a escrever exclusivamente sobre ele como homem e rei logo após essa narrativa. Segundo os escritos de Don Herron, especialista na obra do escritor texano, Howard era um estudante de história dedicado e ele jamais saía totalmente da realidade em seus escritos, mesmo quando narrava tramas ficcionais.
No prefácio da republicação de Bran Mak Morn de 1969, Howard é citado a partir de uma de suas cartas, onde ele afirmava que seria, no passado o inimigo instintivo de Roma e que seu herói picto da Caledônia seria apenas o símbolo de seu próprio antagonismo contra o Império Romano e contra a civilização como um todo. Sim, Conan teve seu precursor pretensamente histórico também em Bran Mak Morn e tais afirmações demonstram a identidade que Howard tinha em relação a esses bárbaros honrados e ferozes.
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