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Entrevista: Roy Thomas

Um bate-papo com o mestre Roy, um dos maiores editores e roteiristas de quadrinhos da história


Roy Thomas (Jackson, Missouri, Estados Unidos, 1940) é um dos mais importantes escritores e editores de quadrinhos americanos da história. Ele substituiu Stan Lee como editor na Marvel dos anos 70 e criou personagens como o Motoqueiro Fantasma, Visão, Punho de Ferro entre tantos outros personagens. Thomas visitou a 36 Salón Internacional del Cómic de Barcelona, para o seu primeiro trabalho na Espanha: Red Sonja: La balada de la Diosa Roja (Planeta Cómic), desenhado por Esteban Maroto (que redesenhou a personagem junto com Roy nos anos 70) e Santi Casas (Injustice).


Na década de 70, junto com Conan, ele criou Red Sonja, originalmente desenhado por Barry Windsor Smith. O Design da roupa feito por BWS não convenceu muito, e Esteban Maroto apresentou um desenho com o agora famoso bikini metálico. Aprovado com louvor, até hoje causa polêmica e várias vezes se tentou substituir por outros tipos de roupa, mas sem sucesso. O bikini metálico sempre retorna!


Desenho de Red Sonja: La Balada de la Diosa Roja, por Esteban Maroto e Santi Casas.

"Foi realmente fantástico voltar a trabalhar com Esteban Maroto e conhecer Santi Casas", diz Thomas. Tem sido ótimo reencontrar Esteban, porque nós trabalhamos juntos a primeira vez cerca de 45 anos atrás, e algumas poucas vezes desde então remotamente. E não nos encontramos até esta Feira de Quadrinhos de Barcelona. Tem sido emocionante. Esteban é um dos melhores cartunistas do mundo e é responsável por aquilo que é chamado de ‘bikini metálico’, a armadura de Red Sonja. Eu adorei assim que vi e desde então tem sido a sua imagem definitiva. Eu sempre fui admirador de Esteban é um prazer trabalhar com ele novamente".


Sobre o trabalho de Santi Casas, Roy nos diz que: "Eu não o conhecia, mas acho muito interessante a combinação de seu trabalho com Esteban Maroto. Os lápis de Santi têm algo terreno e escuro. Enquanto as páginas de Esteban, embora ele esteja desenhando coisas violentas, elas têm uma luz, um ar ... algo quase poético . É muito interessante verificar o contraste entre dois estilos que são tão diferentes, mas também tão interessantes.


COMO NASCEU RED SONJA

Thomas nos diz que: "Eu criei Red Sonja porque queria que Conan tivesse uma guerreira que aparecesse de vez em quando na série. Havia duas grandes mulheres nas histórias de Conan escritas por seu criador, Robert E. Howard. Um era Bêlit, a Rainha da Costa Negra e o grande amor do cimério, de cabelos negros, e a outra era Valéria, cujos cabelos eram loiros. Então eu decidi criar uma guerreira ruiva".


"Nessa época, li um artigo sobre as histórias que Howard tinha escrito sobre as Cruzadas. Lá foi mencionado que em uma dessas histórias havia um personagem secundário, uma guerreira carregando uma espada e duas pistolas e era ruiva. O artigo não mencionava seu nome, mas que ela apareceu em uma história nos anos quarenta. Eu encontrei uma cópia da história e eu descobri que seu nome era Red Sonya, e decidi assim batizar com o mesmo nome do personagem que ele criou, apenas substitui Sonya, com Y grego, para Sonja, com J. Eu pensei que misturar minha ruiva e a de Howard era uma boa ideia."


Estreia do famoso bikini metálico desenhado por Esteban Maroto em Comixscene #5.

Sobre o famoso biquíni metálico de Sonja, Roy diz: "Eu não me preocupei, na época, se ele era machista. Basicamente estávamos vendendo quadrinhos para moleques e eles gostavam de ver mulheres vestidas dessa forma. Não foi apenas para expor seu corpo, mas para torná-lo visualmente mais interessante. Em quase todos os romances, Conan usava armadura, mas nos quadrinhos também o vestíamos com aquela tanga para dar a ele uma aparência mais impressionante. Isso também poderia ser considerado sexista, não é?", pondera. “No gênero dos super-heróis, sempre houve essa exibição de anatomia, acrescenta, “tal como acontece com o maiô da Mulher Maravilha. Eu não acho que eles sejam sexistas. Eu também acho que há muitas pessoas que só procuram tópicos para reclamar (e nem são fãs de quadrinhos nem nada). E não era muito preocupado com a correção política quando escrevo. Para mim isso não fazia muito sentido".


A MARVEL TEM FEITO BONS FILMES DE SUPER-HERÓIS

Sobre a situação atual dos super-heróis, Roy diz: "É verdade que existem filmes de super-heróis demais, quando havia dois por ano eram grandes eventos, mas agora a Marvel rola três por ano, Sony outros 2... e DC outro par .. e outros estúdios podem fazer ainda mais. Talvez, já sejam mais do que o necessário. Mas não é a primeira vez que há um fenômeno similar", continua ele, "por exemplo, nos anos 70, quando James Bond fez sucesso, vários filmes sobre espiões foram lançados e a moda passou, mas James Bond permaneceu. Acredito que, no futuro, haverá muito menos filmes de super-heróis e somente os melhores serão lembrados".


"Além dessa superexploração - ele conclui - acho que, nesses últimos 10 anos, a Marvel fez filmes de super-heróis muito bons; Considerando que, ultimamente DC só foi bem sucedida com a da Mulher Maravilha (e agora, com Aquaman). Marvel fez mais de 15 e todos são razoavelmente bons. Alguns maravilhosos".


O SUBSTITUTO DE STAN LEE

"Sendo um fã vinte e poucos anos de quadrinhos da Marvel, Roy Thomas convenceu Stan Lee a contratá-lo como um escritor e eventualmente sucedeu-o como editor da Marvel, na década de 70, um período de expansão da editora que buscava novos personagens nos filmes, romances e televisão. "Stan Lee concordou, embora super-heróis eram muito bem sucedidos, não poderíamos criar um número infinito deles. Os leitores também nos pediram outras coisas, como Espada & Feitiçaria, por exemplo. Então começamos a procurar novas histórias em outras mídias. Por exemplo, quando os filmes de kung fu se tornaram muito populares, nós criamos Shang-Chi; também licenciamos contos de Conan, e quando a censura relaxou um pouco, e pudemos colocar de novamente vampiros em quadrinhos, editar A Tumba de Drácula. Desta forma, atraímos novos públicos para nossos quadrinhos, que compravam Conan e nunca tinha comprado Homem Aranha, por exemplo".


Foi - acrescenta - uma decisão comercial para atrair esses novos leitores, mas, ao mesmo tempo, tentamos fazer coisas novas e diferentes do que se fazia nos quadrinhos da época. Em alguns casos funcionou e em outros não. Meu trabalho era tentar encontrar novos temas e formatos, alguns foram ideia minha, como Conan e Planeta dos Macacos, e outros foram pensados ​​por Stan, que poderíamos por exemplo pensar as revistas em preto e branco, mas mesmo assim, eu era o único que levou à prática".


“EU ME APAIXONEI POR CONAN POR CAUSA DOS CONTOS DE HOWARD”

Quanto a saber se ele gostaria de escrever novamente para Conan, Roy nos diz que: "Há três conceitos que eu poderia escrever até morrer. Um é Conan, o segundo seria All Star Squadron (uma equipe de super-heróis da DC) e o terceiro, The Invaders com os super-heróis da Segunda Guerra Mundial. Se eu pudesse escrever isso e também ter a oportunidade de criar alguns novos personagens, ficaria muito feliz. Escrever novamente outros super-heróis como Os Vingadores ou o Homem-Aranha não me atrai mais. “Não sei por que tenho essa fixação com os super-heróis e Segunda Guerra Mundial", acrescenta ele, "mas essa combinação de super-heróis com a Segunda Guerra Mundial é irresistível para mim".


O artista Barry Smith foi o artista que primeiro retratou o cimério, na revista Conan the Barbarian.

"Quanto a Conan", diz Thomas, "eu me apaixonei por ele por conta dos melhores romances de Howard. Eu amo como ele escreve e eu sou muito, muito fã de Howard, e não sou tanto do resto dos autores de espada e feitiçaria".


Quanto aos seus projetos, Roy nos conta que: "Passei a maior parte do tempo na revista Alter Ego, que é baseada na história dos quadrinhos dos anos 70, ainda escrevo a tira do Homem-Aranha (na época da entrevista). Eu também escrevi alguns livros sobre a história da Marvel para uma editora alemã chamada Taschen. E no próximo outono, um livro sobre Stan Lee será lançado. Então eu quero me dedicar às minhas próprias histórias. Por exemplo, eu gostaria de escrever um livro sobre os quadrinhos da Guerra Fria, dos anos 40 aos 80. E o que está nos meus planos. Minha esposa quer que eu trabalhe menos e eu quero trabalhar mais".


"Às vezes eu penso em Stan Lee, que com 95 anos ainda está na ativa (Nota: na época desta entrevista Stan Lee ainda estava vivo, faleceu em 12 de novembro de 2018), então eu gosto de pensar que ainda tenho um bom caminho a percorrer", conclui Thomas.


A última visita ao amigo, pouco dias antes da morte de Stan Lee.

Em sua carreira de mais de 55 anos como roteirista, Roy trabalhou com os maiores cartunistas da história. "Dois dos meus favoritos são Jack Kirby e Joe Kubert", diz ele. E eu tenho trabalhado com outras lendas como Neal Adams, John Romita ... Mas se eu tivesse que manter um seria o grande John Buscema (com quem colaborou em Conan por décadas), porque ele podia desenhar qualquer coisa que você pedisse a ele. Ele não precisava de nenhuma referência, apenas sentava e desenhava. "



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