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Robert Howard & Conan #5 - A Cidadela Escarlate

Atualizado: 22 de abr. de 2020

A influências de texto presentes na obra A Cidadela Escarlate de Robert Ervin Howard.


por Etienne Navarre

A Cidadela Escarlate | Etienne Le Roux

A Cidadela Escarlate foi publicada na Weird Tales de janeiro de 1933, foi a segunda história que Conan estrelou como Rei da Aquilônia, mas tinha conotações medievais muito mais marcantes do que A Fênix na Espada. Ela é o primeiro relato de Conan demonstrando o interesse de Howard na história e na epopeia. É possível que ele tenha tido a ideia para o início da história, na qual Conan e seu exército caem em uma emboscada armada por seus supostos aliados, a partir de uma anedota relatada por Bulfinch. Ao descrever a Batalha de Roncesvalles, Bulfinch escreve o seguinte:


"...Marsilio começou lamentando, agindo não como embaixador, mas como amigo, a quem os insultos cometidos por Carlos ao invadir seus domínios fizeram abrigar o desejo de arrebatar o reino e entregá-lo a Orlando. E, no entanto, ele não se esquivou de sugerir que, se o ambicioso paladino fosse morto, a justiça seria feita a todos os homens de bem. Gan [...] exclamou: - Tudo o que você diz é verdade; Ele deve morrer, assim como Oliverio, que me deu aquele golpe traiçoeiro na frente de todo o tribunal. [...] Eu tenho tudo planejado; já organizei as coisas com seu infame mestre. Orlando chegará às suas fronteiras - a Roncesvalles - com o objetivo de coletar a homenagem. Carlos esperará por você no sopé das montanhas. Orlando trará com ele apenas uma pequena comitiva: quando você o encontrar, contará secretamente com o apoio de todo o seu exército. Você o cercará e quem coletará o tributo de quem?"


A partir dessa curta passagem, Howard construiu um conto épico que não deve nada a Bulfinch. Aqui é necessário fazer uma aclaração: é claro que Howard não era nenhum plagiador. Ele somente se inspirava em várias histórias ao mesmo tempo para fazer seus próprios contos, e nada além disso. Uma coisa é SE INSPIRAR, outra muito diferente é PLAGIAR. Todos os escritores fazem isso. Tolkien por exemplo, tem passagens dos sus livros que são um reflexo direto das suas leituras, como o Kalevala, a Bíblia, O Anel dos Nibelungos, a saga de Bewolf entre outros, e ninguém diria que Tolkien é um plagiador, certo?


Sir Nigel, publicado em 1905-06

As leituras de Howard eram como mecanismos a partir dos quais ele criou histórias que pertenciam inteiramente a ele: quem poderia detectar, por exemplo, depois de ler a versão publicada de A Cidadela Escarlate, que os romances "A Companhia Branca" e "Sir Nigel", de Arthur Conan Doyle, possivelmente lhe forneceram alguns dados para o cenário de sua história? Em uma carta recebida em 9 de agosto de 1932 por Lovecraft, Howard menciona casualmente: "Como Samkin Aylward, estou falando com um homem com uma gota de amargura". Samkin Alyward é um personagem dos dois romances de Doyle, ambientados na França e na Inglaterra medievais durante a Guerra dos Cem Anos. Na versão publicada de A Cidadela Escarlate, há uma menção enigmática de "a terra dilacerada pela guerra dos barões". Nas primeiras versões do relato, a passagem era muito mais detalhada: "Os aristocratas tinham uma memória longa; eles se lembrariam dos mercadores ricos que haviam contribuído livremente para a causa de Conan, e se lembrariam dos camponeses fortes com quem Conan havia quebrado o poder dos senhores feudais na Guerra dos Barões". A razão para esse corte é muito simples: houve uma "Guerra dos Barões" na histórica Inglaterra no século XIII, mencionada no romance Sir Nigel. Um exemplo semelhante é encontrado na menção de "seis comerciantes ricos, enviados em delegação de protesto, foram presos e decapitados sem cerimônia". Provavelmente derivado do episódio histórico dos seis burgueses de Calais, embora estes tenham escapado da morte. Doyle menciona o fato: "Lembre-se de que ele jurou enforcar os seis burgueses desta cidade [Calais] e ainda assim os perdoou". Grande parte da terminologia medieval de Howard, especialmente em relação a armas e armaduras, poderia muito bem vir dos romances de Doyle.

"Contemplava, com um sinistro sorriso no rosto, como os reis freavam seus cavalos a uma distância segura da taciturna figura que erguia-se por cima dos mortos. Até o homem mais valente recuava ao ver o brilho assassino que brotava dos ardentes olhos azuis, os quais despontavam por baixo do capacete. O rosto escuro e cicatrizado de Conan queimava de ódio; sua armadura negra estava despedaçada e manchada de sangue; sua enorme espada estava vermelha até a empunhadura. Naquele momento, havia desaparecido todo rastro de civilização; ali havia um bárbaro enfrentando seus vencedores. Conan era um nativo da Ciméria, um montanhês feroz e taciturno, originário de uma terra escura e nublada do norte. Sua vida e suas aventuras, que o levaram até o trono da Aquilônia, haviam transformado-se em lenda." - A Cidadela Escarlate


por Darick Robertson

Imagens da Batalha de Roncesvalles sobrevoam a introdução da Cidadela Escarlate. Encontramos um Conan de quarenta anos, soberano da Aquilônia, preso no campo da honra por inimigos que o venceram graças à traição. A história (a mais longa do personagem até então) reúne o melhor da série: grandes batalhas, bruxaria, cobras gigantes, masmorras repletas de criaturas demoníacas e herdeiras da epopeia medieval que tanto interessavam ao autor. O cimério só tem coragem, força de vontade e habilidade na luta para sobreviver. Sua fuga pelos túneis e criptas da fortaleza é brilhantemente escrita, administrando tensão, mistério, drama e horror. A Cidadela Escarlate é a primeira história em que o equivalente à costa africana hiboriana é mencionado, numa cena em que o carcereiro reconheceu Conan como Amra, nome pelo qual o cimério era conhecido pelos habitantes de Kush em sua fasse de pirata, Amra o leão:

"- Há muito que eu queria encontrá-lo, Amra. - disse-lhe o negro, chamando-o pelo nome com o qual conheciam-no os kushitas de sua época de pirata... Amra, o Leão - O escravo esboçou um sorriso quase animal, mostrando seus dentes brancos. Os olhos brilharam-lhe com fulgor avermelhado à luz das tochas. - Me arrisquei muito pra vir vê-lo! Veja! As chaves dos seus grilhões! Roubei-as de Shukeli. O que me dará por elas? – perguntou, agitando as chaves diante dos olhos de Conan. - Dez mil lunas de ouro - respondeu rapidamente o rei, com uma esperança no coração - Não é o bastante! -respondeu o negro, gritando, com feroz alegria em seu rosto de ébano - Não é o bastante, tendo em conta o risco que corro. Tsotha é capaz de enviar seus monstros para que me devorem, e se Shukeli se der conta de que roubei-lhe as chaves, me pendurará do... bom, o que me dá? - Quinze mil lunas e um palácio em Poitain - ofereceu o rei. O negro lançou um grito e pôs-se a dar saltos de alegria. - Mais! - pediu a gritos - Ofereça mais! O que me dará? - Cão negro! – disse Conan, com um véu de fúria nos olhos - Se eu estivesse livre, te quebraria o pescoço! Por acaso Shukeli enviou-lhe para cá, pra que você zombasse de mim?"


Por Sanjulian

Virilidade na sua forma mais pura. Comparado às criações de outros escritores da época, mais amigáveis ​​e acessíveis ao público em geral, Conan se destaca por sua personalidade impetuosa, feroz e selvagem. Este é um homem inteligente, hábil e engenhoso. Em sua subsequente transferência para o cinema, como aconteceu com Tarzan, ele misteriosamente perdeu sua capacidade de se expressar. De fato, a maioria acredita que o cimério é um indivíduo hiper-musculoso, vestido de aço e peles, que só sabe "esmagar inimigos, vê-los destruídos e ouvir o lamento de suas mulheres". Nada está mais longe da realidade. Esta frase de Mark Schultz retrata isso perfeitamente: "Em Conan, encontramos algo muito raro na literatura de fantasia: um herói que muda e cresce de uma história para outra. O adolescente inseguro que mata um homem por insultá-lo em A Torre do Elefante não é o mesmo que sofre por sua amada em A Rainha da Costa Negra, nem o mesmo mercenário veterano que começa a entender que um destino mais importante o aguarda em O Colosso Negro, nem o mesmo Conan que, como rei, protege as artes (as artes, pelo amor de Crom!) e reconhece que a poesia continuará a viver por muito tempo depois que ele morreu em A Fênix na Espada. Conan cresce e amadurece, e é uma pena que a visão popular do personagem seja amplamente restrita à de uma máquina de matar com uma mandíbula quadrada musculosa e ardente. O Conan criado por Howard tinha muito mais. Sim, ele luta e mata, mas também reflete e ri - tanto ele quanto os outros -, ama e perde, duvida e hesita, age de maneira altruísta e é capaz de entender criaturas de outras raças. Ele é, acima de tudo, um ser totalmente carismático; Nenhum estrangeiro chega para governar exércitos e nações inteiras sem inspirar confiança e devoção. Ele não é um simples selvagem."


No próximo post, falarei de um clássico de Howard e também da literatura fantástica: A Torre do Elefante.



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