Robert Howard & Conan #4 - A Era Hiboriana
Os detalhes e referências da criação do mundo fantástico onde Conan viveu, a Era Hiboriana.
por Etienne Navarre

O mundo de Conan estava começando a fugir do seu controle, devido a escever as histórias rápido demais. Ele precisava encaixar seu mundo em um contexto administrável para desenvolver os relatos de Conan de forma fidedigna, geográfica e temporalmente. Então, criou A Era Hiboriana, um ensaio coerente de oito mil palavras, utilizando-se de elementos culturais, políticos, religiosos e sociais de civilizações históricas, baseado nos povos antigos da humanidade. Ele teria assim uma ampla margem para desenvolver suas histórias sem medo de imprecisões históricas e, o mais importante, não seria difícil para os leitores reconhecerem as raças, nações e civilizações mencionadas.
Não devemos esquecer que naquela época os mundos fantásticos não existiam. As pessoas não estavam familiarizadas com eles como ficariam décadas depois, como hoje. Metódico, Howard desenhou mapas e escreveu as Notas sobre os povos da Era Hiboriana para usá-los num futuro próximo. Ele nunca deixou nada ao azar. Levava seu trabalho de forma ordenada, eficiente e profissional. E, como Howard escreveu uma longa história da Era Hiboriana e não poupou esforços para torná-lo um mundo coerente, alguns críticos a incluem na tradição da fantasia chamada "dos mundos fantásticos", exemplificada por escritores talentosos como George. MacDonald, William Morris, Lord Dunsany e J.R.R. Tolkien.

Mas a Era Hiboriana é histórica, não imaginária: é simplesmente um elo no qual elementos de diferentes períodos históricos podem ser reunidos por conveniência. Parte do charme das histórias de Conan está no realismo, porque todos reconhecemos o mundo em que o personagem se move. Essas histórias se passariam em um mundo povoado por piratas elisabetanos, assassinos irlandeses e corsários de Berberia; moradores da fronteira americana e saqueadores cossacos; feiticeiros egípcios e adoradores de cultos romanos ocultos; cavaleiros medievais e exércitos assírios, todos eles disfarçados, mas não com o objetivo de esconder sua verdadeira identidade. Howard estava tentando dar nomes que permitissem ao leitor deduzir sua verdadeira identidade sem muito esforço: ele queria que nós os reconhecêssemos instantaneamente. Pois, alguém não percebe o fato de que o Afghulistan é o Afeganistão e que Vendhya é a Índia, ou os kozaks são os cossacos, somente pra citar alguns exemplos? Não creio. A Era Hiboriana não é somente um artifício de Robert Erwin Howard, pois embora seja verdade que trata-se de uma imensa "colagem" em um mundo fictício, também é verdade que a composição do lugar que fez este escritor texano não é somente uma invenção ao azar, do que pode ser a configuração continental de 10.000 anos atrás. As fontes de Howard vão muito além. Howard estudou exaustivamente o passado e o presente, para criar uma coisa mais profunda: é um mundo concebido depois de exaustivas e meticulosas sessões de busca de dados, umas vezes gregos, outras vezes lendários, outras vezes romanos, onde o autor volcou todo seu amor pela lenda, pela história pelo romance... De modo geral, pode se dizer que A Era Hiboriana é uma obra monumental a qual, até agora, pouca gente conhece com suficiente profundidade... por exemplo, sabe todo mundo que lugares como Khorusun, Kosala, Vendhya ou Ayodhya existem na realidade? Pois é... O mundo criado por Howard vai além de simples invenção, por trás do qual tem uma documentação profunda, muito completa. Aquele que examine a consciência a toponímia do criador de Conan, vai ficar cada vez mais atrapado, mais submerso pelo caráter técnico que Howard deu a sua obra, nenhum dos termos usados por Howard é fictício, mas tem base sempre em algum lugar real ou mitológico.
A Era Hiboriana seria então uma Era de pré-civilizações históricas, datada mais ou menos em 10.000 A.C, uma espécie de "contexto histórico-ficcional" de diversos povos e culturas que, segundo Howard foram destruídas e apagadas da memória da história convencional em meio há um grande fenômeno climático da natureza. As passagens da Era Hiboriana são claras, verossímeis e memoráveis. Poucos escritores de fantasía (o outro somente é o Tolkien) criaram um universo tão rico, extenso e variado com tamanha naturalidade sem artifícios. Na Era Hiboriana assistimos a grandes terremotos, barbárie, guerras tribais, escravidão,migrações constantes, pastoreio, civilizações extraordinárias e em último lugar o inevitável cataclismo que formaria o mundo atual. Mas, engana-se quem pensa que A Era Hiboriana é somente a obra de oito mil palavras que Howard fez, pois ele decidiu integrar aos poucos os contos de Kull de Atlantis, Solomon Kane, Bran Mak Morn e James Allison, entre outros personagens "não conanescos", por assim dizer, sob o mesmo teto. Revelando assim aos poucos mais e mais detalhes sobre sua monumental obra. Pouca gente sabe, por exemplo, que o relato Caminhantes do Valhalla, de James Allison e Homens das Sombras, um conto de Bran Mak Morn, estão entrelaçados e revelam detalhes pouco conhecidos sobe A Era Hiboriana, ou que seu conto A Ilha dos Eons relata sobre como foi a destruição de Mu, isso para citar alguns exemplos somente, e a obra não estava acabada quando ele morreu. Na primavera de 1932, Howard começou a escrever A Cidadela Escarlate, o segundo conto de Conan como rei da Aquilônia.
Próxima postagem: A Cidadela Escarlate.
Parte 04